30.6.10

Minha menina

“Somente quem se perderá é que se salvará, não sei, só sei que quero perder-me por aí como quem se perde se fragmenta por entre estrelas, galáxias, átomos, constelações, micróbios, amebas, nebulosas, quasares e só pedindo para tu me amares!”
Num exílio eu te desenho
Rabisco, rasgo, interno
Te atraco no meu cais

Num pedaço de universo
Te possuo, me queimo
Te abafo os ais

22.6.10

Olhara pro laço bonito no chão e nas mãos o presente que havia esperado. Mas aliás, aquilo fora um presente? Ganhara uma vida, mas dera a sua em troca.

XXX

Sob um céu de cores e tons catolicamente intensos um velho senta num vermelho.
- Existe sentido na vida? - Perguntou quase sem voz, garganta problemática provavelmente.
- Fujo dessa pergunta como o diabo foge da cruz, eu geralmente tiro e dou o sentido à vida.
- Achei que você fosse um diabo.
- Ando disfarçada.
Respondi e pensei duas vezes na conversa estranha que ele tava me propondo. E se eu realmente levasse tudo a sério? E se ele não acreditasse em mim? Eu precisava mostrar-lhe que eu não era um diabo. Eu precisava contar que ele tava conversando com o amor mas que às vezes eu tomava forma de demônio. Não era preciso se preocupar, não era preciso dor de garganta nem lágrima no olho. Eu iria lhe dar afago no fim, mas que ele esperasse. Que não me procurasse, que eu o procuraria todos os dias. E pensei tanto que calei.

Cem

Sinto uma casa na tua boca quando percebo que tu conjugas o "tu" como quem tivesse acabado de aprender (e espera de um sorriso depois). Eu te alfabetizo quando tu não percebes e te dou um troféu. Aí eu perambulo e caraminholo em devaneios pensando que isso são as minhas preces que estão voltando em português, na segunda pessoa do singular de uma língua furada. Um canto de boca também (as palavras escoam ali). Sinto casa na tua boca, sinto frio na ponta dos dedos.

20.6.10

Bateria

Eu me permito invadir minha metalinguística e me declarar diante de qualquer palavra sobre a minha paz interior. Eu vou jogar pedra nas vitrines expondo a dor alheia e queimar a barra do vestido das noivas que insistem em me deixar toda noite. É isso.

Mãos queimando

Olha
Hoje faz-se sol
É
Produz-se
Artesanal mesmo.

17.6.10

MACÁRIO
Quem era essa mulher?

SATAN
Era um anjo. Há cinco mil anos que ela tem o corpo da mulher e o anátema de uma virgindade eterna. Tem todas as sedes, todos os apetites lascivos, mas não pode amar. Todos aqueles em que ela toca se gelam. Repousou o seu seio, roçou suas faces em muitas virgens e prostitutas, em muitos velhos e crianças—bateu a todas as portas da criação, estendeu-se em todos os leitos e com ela o silêncio... Essa estátua ambulante é quem murcha as flores, quem desfolha o outono, quem amortalha as esperanças.

16.6.10

E, Cila.

I
Eu não costumo usar o "você" mas com você sinto diferença e talvez necessidade.

II
pedaço de asa
pedaço de auréola
pedaço de céu
pedaço de nuvem
pedaço de ah,

III
Como Clarice, pedaço de Lice.
Deixa que eu tome conta das tuas pétalas e ore pelo teu jardim (o repleto de plantas carnívoras e nuvens em formato de coelhos).

IV
Eu sou um planeta chamado "Eu te amo". (quase entendo esse nome)

V
- May I touch you?

Alves de Paiva

O que será, que será? Que andam suspirando pelas alcovas, que andam sussurrando em versos e trovas, que andam combinando no breu das tocas, que anda nas cabeças anda nas bocas, que andam acendendo velas nos becos, que estão falando alto pelos botecos? E gritam nos mercados que com certeza, está na natureza.

Será, que será?

O que não tem certeza nem nunca terá, o que não tem conserto nem nunca terá, o que não tem tamanho...

O que será, que será? que vive nas idéias desses amantes, que cantam os poetas mais delirantes, que juram os profetas embriagados, que está na romaria dos mutilados, que está na fantasia dos infelizes, que está no dia a dia das meretrizes? No plano dos bandidos dos desvalidos, em todos os sentidos...

Será, que será?

O que não tem decência nem nunca terá, o que não tem censura nem nunca terá, o que não faz sentido...

O que será, que será? Que todos os avisos não vão evitar, por que todos os risos vão desafiar, por que todos os sinos irão repicar, por que todos os hinos irão consagrar? E todos os meninos vão desembestar e todos os destinos irão se encontrar e mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá olhando aquele inferno vai abençoar

O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo...

15.6.10

Parados frente ao portão, mãos perdidas num vácuo gelado e a ansiedade que eu tanto encontro na distância do meu pensamento até o olhar que me dá sensação de não sei o quê. Jack Kerouac, Os subterrâneos e a Torre Eiffeil. É, eu tremo. Tremo de falta de reação, de frio, de olhos e cílios borrados de rímel (que sempre têm dedos a limpar).

"Para você que está nos meus pensamentos. Te adoro. Beijo."

Só até a escada, por enquanto.

14.6.10

(je ne suis pas ta amelie? parfois, vous me rendre triste même quand vous ne voulez pas)
Nunca houve tanta esperança em olhos que se deixam ir.

- Tu deverias te orgulhar das minhas juras
- Eu gosto.
- Só gostar não basta.
- Eu não posso fazer nada
- Eu posso te amar?

A menina acorda bem e pede uma salva de palmas

Acordo com uma raio de sol forte na minha direção. Às vezes acho que ele deveria ter algum nome. É gostoso ser acordada (impetuosamente) por algo que não me faça sentir o estômago embrulhar e o corpo estremecer. Eu penso.

Eu que tanto deveria ter ligado mais pra tudo ao meu redor, às vezes acho que a janela embaçada do frio é só a minha vontade de querer ter algo que me aproxime dos meus curativos. É sempre assim. Eu chamo de saga-do-que-não-sei-o-que-é-mas-não-canso-que-procurar.

Eu me escrevo num épico. Me procuro num épico pra ser sincera (eu me procuro em todos os lugares, me perdi de ti e me achei de novo, mas tu sabes o quanto eu preciso de mim. As minhas cidades me confundem e eu geralmente confundo o teu amor com o de outras pessoas. Não tem maldade, é só que eu me preciso e tu fazes parte disso, mas eu não posso. Eu não te posso. E acabo escrevendo novos textos dentro de parênteses porque acho que tu deves ser esse grande parênteses - e quando eu te chamo na segunda pessoa é que meus pensamentos escoem com tanto fluxo que eu pronuncio um pecado querer controlar). Espirrei forte e meus cabelos molhados pingaram frio em mim.

Será que é feio terminar todos os textos com (eu te amo)?

13.6.10

Nublado

Eu tô acostumada a me explicar por metáforas climáticas.

Seis anos que ninguém sabe o que é

Eu vou dizer que escrever o amor me cansa, que amar me mata e que tu és um veneno. Mas eu olho pras tuas olheiras e vejo um sertão inteiro prestes a ser inundado e eu fico à espreita, à espera. Preparo algum primeiro socorro e me envio pra perto das tuas vibrações, fico assim... à deriva. Fico à. Tu me deixas à - qualquer coisa que me faça tremer pernas.

Então o amor me cansa. Mas agora já poderia concluir uma tese e desenhar mapas sobre ele com espinhos nos olhos sem pouco doer ou me importar. Eu poderia fazer todas as coisas que me cortem o epitelial sem a entrega do meu medo. E ele está sempre muito entregue. Eu o faria só pela certeza de uma janela aberta numa casa no Alabama e algumas sementes a crescer. Eu te vejo através da cortina branca e mirabolo prosas em francês, em tcheco, espanhol, qualquer outra língua que eu arranhe - como a tua.

Mas se tu foges do deserto e queimas meus mapas e teses eu fico mais do que à (verbo expressão agonia) e eu sinto saudade. Eu sinto saudade de desertificar as pupilas que outrora devoram-me norte a sul, noroeste a qualquer outro ponto cardeal que exista em mim (meu corpo é testemunha do bem que ele me faz) e tu podes negar mas não podes fugir. Os hematomas -externos e internos - nos denunciam.

Eu preciso manter esse canal de expressão aberto, meu papel acabou, já escrevi em toda a extensão da minha pele, muros da cidade (encontrei uma padaria chamada Bonamour) e ainda não é o suficiente. Preciso que isso baste pra eu não me aflingir depois. Isso basta.

Vou embora mas eu preciso que tu te ponhas numa mala e venha comigo. Aqui eu não estanco mas sem tu eu não parto (Parto: s.m(o). Conjunto de fenômenos físicos que provocam a expulsão da criança, da placenta e das membranas fetais, ao final da gravidez.).

São trezentos e sessenta e cinco (seis) dias desde quando subiram as escadas um par de botas e uma camisa desenhada à procura do meu amor. Coloquei no teu bolso a chave de todos os cômodos e agora eu sou dois em um, que nem shampoo barato de mercadinho. E enquanto eu tiver o deserto dos teus olhos a compensar o oceano do meu peito eu estarei tranquila, com o olhos se fechando toda noite sem dor.

(que nem Triavil barato de farmácia)

(eu te amo)

12.6.10

Geraldo Júnior e as juras de amor

No mistério vento que leva a noite, no aflito acorde dessa tensão. Voa o amor penado do teu sobejo que me assombra me pedindo outra paixão. Me perco todo, me estremeço, perco a fala, penso me vala vou cantar nossa oração. E nesse transe fui levado a outro tempo, outro momento me levou meu coração. Tinha uma viola a natureza e o teu cheiro. Eu, já sem medo, toquei a nossa canção num arrupeio que mexeu com os meus nervos (senti na pele o toque da tuas mãos). Pelo telhado a luz da lua, a tua sombra. E o que me assombra é esse cheiro de fulô que até hoje ainda perfuma minha casa mas me atrasa me prendendo a esse amor. Tapando os olhos vi o fogo do desejo do amor que morre mas não deixa descançar. Do amor nobre que se incalça no insejo de a meia noite me pedir pra eu lhe rezar, de a meia noite me pedir pra eu lhe cantar. No silêncio pardo em que vão meus olhos, morgo seguindo o intento da escuridão, sofro mordendo os lábios sem o teu beijo e choro debulhando as contas da minha solidão.

10.6.10

Tem um remédio perdido nas minhas coisas. Minha cabeça não tá no pescoço.
Eis que então eu suspiro pra que me entender se torne mais agradável. Conto com algumas arquidioceses que visitam meus olhos nos dias de vidros abafados. Eu poderia contar as partes das ruas que me deixam despedaçada mas isso seria triste porque eu perderia a conta. Meu mar me leva cada dia pra mais longe da minha margem. Mas eu aprendi a nadar.

Com os pulmões cheios d'água
Can you feel that smell? Your eyes are dying all the time. A thousand times.
Que a terra
que eu pise
tenha pelo
menos
chão o
suficiente
pra me
aguentar.

8.6.10

Je me léve à sept heures et demi et je prende mon petit-dèjeuner. Je écris sur vous toute le journée. Vous êtes le poème de mes jours. Aujourd'hui, j'ai écrit ton amour.

7.6.10

Catcher

Eu tremo, sei que tremo porque essa constelação epitelial vem pertubar o teto espelhado em vermelho em qualquer lugar que eu me encontre - que tu me encontres. Em verbos conjugados no futuro as palavras se pronunciam cheias de otimismo e passei a chamar isso de consolo. Não que realmente fossem um consolo.

Mas eu preciso de um consolo.

Mas que hajam tantas preces num filtro que eu possa catá-las a fim de engoli-las feito cápsulas grandes que me tratem a longo-prazo.

1.6.10

Feliz aniversário, meu amor.


Assim, sem subjetividade.