19.4.10

Nós

Nós não somos pra agora
E pra agora
Já fomos demais.

13.4.10

Good news

Sei que tenho dito isso desde quando comecei a tatuar, mas eu vou parar de reclamar da dor, vou parar de pensar só no agora e vou começar a pensar na beleza final. Eu sou a tua rosa a desabrochar, sou o teu cais em manutenção. Preciso me recolher pra dormir agora, espero que meu coração entenda e não ceda.

6.4.10

410

É muito simples de ser explicado. É um texto meramente ilustrativo mas que possui função inteiramente metalinguística.

É que não dá

O vestido de flores surradas e os ursinhos empoeirados na prateleira assistem a mala se enchendo sem eles. Alguém os faça parar de gritar.

5.4.10

Tarde estática, banhada num azul tão entediante que fariam-se linhas a dedo no infinito. Maria numa casa abandonada, sem rumo rumo certo, num mar revolto, sem ninguém ou mês que vem nesse país que nos engana. Olhava nos olhos e não via nada. Cinzas flutuantes, a tarde despida do azul, a boutique sem as roupas, as luas e os fuscas na avenida encharcados das águas da nossa raiva. É fácil se perder, é fácil matar, é fácil morrer.

Olhos de primavera

Vou confessar minha ansiedade pra encontrar a primavera ensolarada dos teus olhos. Lembra de como era o céu naquela janela? Lembra dos balões amarelos que voavam no meu estômago quando subia aquelas escadas? Te dei um deles. As escadas me levaram pro céu naqueles dias. Ainda tremo e tu ainda me dás o sorriso desajeitado.

1.4.10

Praxe

Quando me perguntam o que é o infinito, me parece óbvio responder que é onde as paralelas vão se encontrar. Então meu rosto cora e arranho um sorriso. Fácil perceber.

Decifrável

Não entendo esses paralelepipedos em que piso. Fumei todas as nuvens e calçadas sujas daquela cidade na ânsia de te arrancar dos meus poros. Entrei no quarto e as paredes manchadas de amor já denunciavam o nosso fim. Tuas calcinhas espalhadas por todo canto exalam um cheiro que só a mim pertencia e, impune, tu entregas ele a uma cama com um corpo alheio. As nuvens nos pulmões me dão tontura agora (aquela tontura que sempre te falei e nunca acreditaste) e não consigo evitar a voz do Chico e tua imagem na cabeça. Os prédios engoliram nossa cidade, a chuva nos colocou abaixo. Falar em chuva me faz lembrar de ti, porque choras feito uma torneira sem conserto e tu sabes que a chuva da nossa cidade é só o choro dos covardes que se entregam aqui. Por isso chove tanto. Teu sorriso naquele quarto não era de emoção, era o teu nervosismo que só eu conhecia daquela forma. Agora é a parte em que te digo "te conheço, meu pé de Laranja Lima" mas tu não estás aqui pra ouvir, então agora é a parte em que a saudade dói. Não demora muito e tu já começas a recolher teu medo e tuas calcinhas pra vir atrás de mim com aqueles olhos de desespero. No fim eu sou sempre tão entregue a ti quanto tu és pra mim e o amor já foi tatuado. Teus olhos me pedem amor. Eu te conheço, meu pé de Laranja Lima.