27.2.10

Jonas

E se por acaso eu morasse numa baleia? Ah, Deus, você deixa?! Por favor, vai!

Os três

Mas fingi comprender. A intoxicação amoral já impedia minha naturalidade. O medo do ciúme exposto. A falta de coragem da debilidade provocou a primeira atitude falsa, um sorriso complacente para as primeiras decepções. Tomamos café juntos, os três. A mulher, surpreendida no início, acalmou-se. E coloquei no alicerce da vida que íamos constituir a primeira estaca de simulação. Eu me dispus a lutar contra os preconceitos de posse exclusiva.

Rosas

Se me dás o direito da natureza me pinto flor. Me tiro das peles e da carne vazia. Me pinto flor. Me pinto a dedo sem o medo que outrora eu trazia. Bom dia, Sol. Hoje me despeço de tudo que fui. Me entrego assim, covarde e sem escrúpulos. Bom dia, primavera. Hoje fiz amor, amor com pecado. Já não importam veias vazias, os pratos ainda sujos empilhados na pia. A janela batendo sozinha e o medo que dá. Já não há ninguém pra me dizer que é só a chuva. E se eu gripar? Levanto com as pernas trêmulas tateando as paredes a procura de apoio qualquer. Acabo de nascer. Preciso limpar esse sangue que faz arte em meu corpo.

Redimível

Joana, Joana, se minha felicidade termina quando começo essa conversa é porque trago no peito uma saudade imensa que afago de outro alguém já não supre, é porque não tenho concentração pra fazer outra coisa senão te dar atenção. Joana, tenho te dito que meus dias são felizes, mas na verdade, foi porque por um triz, eu não pensei em ti e quando começo essa conversa lembro de todos os percusos que já fizemos juntos. Joana, eu lembro daqueles dias em que eu, num ato mor de melodrama te chorei minhas dores debaixo dum lençol sujo. Aqueles dias, sim, eu estive feliz. E os fins de tarde na padaria, Joana? Mas agora, não. Agora não há lençol sequer padaria. Se minha felicidade termina é porque agora começo a lembrar que te procurei em todas as rodas de samba, cada esquina dessa cidade, cada folha em formato de coração. Joana, eu te procurei em cada nota do teu violão. Eu quis que tu estivesses nos olhos daqueles desarmados, nas mãos calejadas e sujas daqueles incrédulos. Mas agora me fiz abortar quaisquer pensamentos que me tivessem voltando ao calor do teu sorriso. Minha felicidade termina agora, porque esse coração pequeno já descrê de Allan Kardec, São Jorge, Exu. Já descrê que aqueles beijos de café há léguas no passado eu torne a encontrar senão na tua boca. Minha felicidade termina mesmo nessa conversa porque já não enxergo teus olhos e lembro que assim se sucederá. É, Joana, tu és a única culpada da minha infelicidade. És a culpada de todos os meus sentimentos.

26.2.10

Amor

Ai que essa criança tem me consumido, me faz perder o sono, me descabela inteira.

Flor e Bernoulli

Sorriu como se aquele vento fosse o vento de um lugar já antes visitado e seu tato tão macio quanto um lençol quente. Era aquilo tudo, era tanto e era muito. As luzes, os sons, o bons e meio tons. O calor nada irritante vinha com flores, tão velhas e mortas quanto significativas. E deixava-se estender aos ponteiros dando voltas infindas. E eram luas, eram sóis e eram céus. Bocas e corações, tão abertos que mal poderiam sentir o resto.

25.2.10

Escrivaninha

"We're gonna see daddy today, Margot Bijou!"
É tudo que tenho sido.