31.5.10

Calma, criança, que isso faz parte das tuas brincadeiras . Cala, sem pressa, os teus poros previsíveis e abafados que tanto têm perturbado a vizinhança, que todas as noites joga a insipidez pela janela. Isso é coisa que já tens trazido de outros olhares.

30.5.10

Acordo aos fogos de navios em chamas. À janela, à deriva das minhas próprias palavras. Eu tenho tanto a dizer mas tudo foge num ato de mais ou menos descaso. Ou muito caso sem pouco querer.
Que se imponha a dialética sobre esses corpos cansados de saber do próprio fracasso. Mas que saibam então lidar com os espelhos que lhes rodeiam.

Não, pequenina. É só uma questão de auto-conhecimento.

Cospe.

20.5.10

desvasto teu corpo
feito sol na terra
cava aqui
pertinho da nossa sombra
onde teu medo descança
nefasto no tempo.

18.5.10

Tem um clima temperado entre a minha afta e a tua virilha.

17.5.10

Flamejada em amores idílicos, platônicos e adjetivos parecidos eu sinto me merecer mais do que qualquer outra pessoa, não importa gênero. E me ter seria tão ferino quanto não me ter, me perder. Joelhos e mamilos escorrem o sub-gozo que eu deveria ter poupado pra outra era, porque me enoja quando ele vem oco sem frio na barriga, ansiedade. E quando meus devaneios acasalam com os teus e enfim sentimos encontrar colo na mente tranquila e perturbada nossa, é quando eu mais preciso estar longe dos meus reflexos, te olhando de longe a falar a literatura cósmica universal. E me perco, afoitada, nesse teu tanto de mar, no meu tanto de nada. No teu tão tanto de tudo, tu te perdes no meu mundo.

Anseio que não me ter possa estar dentro de uma vertente de mim, dentro do interlúdio pro qual eu entrego meus delírios em sonhos. Desconfio que esses tornados a me olhar sejam teus olhos me pedindo amor. Se forem, eu estou certa que de hoje a terra é um planeta melhor. Eu tive bronquite e consegui recitar teus poemas, acho que eles me adoeceram. E não me ter - está ali na janela, sem fôlego com o corpo entregue a gravidade sem pudor, inevitavelmente cega pelas tuas mãos, verdades, mentiras, poros. Porque me tive um dia e penso não voltar atrás.

Então me tenho e tateio as paredes afim de encontrar sentido qualquer pra minha sustentação. Rasguei as estrofes escritas em pretérito porque estive comprometida a estar inexpressível e fria pro inverno que se anuncia. Meus dedos correm em rios, em fios, em papéis que cortam e fazem sangrar. Mas eu me tenho e me afogo em lençóis sujos, me tocando, me escrevendo sem ligar pros dedos que sangram e te apagam cada dia mais. Te matam na linha do tempo.

Me ligaste? Porque eu não quero tua boca tocando o sexo de outro corpo. É fácil o comodismo da censura e o contrário é o choque de realidade que rasga dilacerendo as células vivas e emocionais. Eu chamo de trauma.

Toca ou não toca, disse Lispector. Essa é a fuga mais inconsequente que eu poderia me presentear. Correr da minha própria paz, me cortar com desequilíbrio. Eu rogo de joelhos aos teus olhos, ensanguentada com essa doença, eu rogo pela minha paz, porque de repente não me ter é me perder dentro dum útero e ser abortada. Então depois disso eu me tenho novamente, horas infindas se escorrem e eu peço com desespero: déjame solo. Por favor.

Mas eu te juro amor eterno e tudo termina aqui na insanidade emocional sem uma gota de razão. Me desequilibro e caio.

14.5.10

Vou postar no blog

Os sinos badalavam e desta vez não nos meus ouvidos e senti que precisava de ti imediatamente. Eu quero que se foda os conceitos de paixão, de namoro, amor. Foda-se o aperto sufocante do meu peito. Eu quero que mil diabos me possuam porque enquanto eu tiver os teus olhos no meu nada entra e nada atinge. Eu quero que a música alta deste filme potecialmente falso e discursivo me tome por inteira e que todos os futuros cineatas saibam que eu entreguei minha auto-sufiência pra uma pessoa só. Que mão impura e indubta rasgou a máscara da minha natureza que mil e um feiticeiros não o fizeram?
Eu te amo
E odeio
E amo
Ponto final

3.5.10

I

Foi decidido que a partir daquele dia os relógios seriam desligados. Pulso, parede, celular, qualquer coisa. As horas não passavam e já pouco se importavam. O tempo havia parado, tudo estava estagnado nas previsões dos ancestrais.

- Alguma notícia? Telefone, carta, telegrama?
- Se ao menos coração mandasse mensagem eu dormiria feliz.

Procura-se mulher de coração machucado. Olhos tristes de cílios dourados, mãos calejadas e a alma pura.

- O que acontece quando passa muito tempo longe? Povo esquece de amor? De amar?
- Esquece nada. Povo esquece da feição, sabor da carne. É que perde o tempero, sabe?
- Acho que tô amando. É um vagalume. Ele vem me ver todas as noites, canta música de flores pra mim.
- É porque tu és descaradamente emotiva.
- O que tem a ver?
- Eu tô procurando por Inácia. Não quero saber dos teus amores vagalumísticos.
- Eu também não entendi isso de esquecer feição, tempero, sei lá o que.
- Teu problema é querer entender tudo. Cadê Inácia?

6h da manhã. Mas quem se importava com hora? O dia era dividido em claro e escuro, fome e sono. 6h da manhã, 26 meses depois. O tempo havia consumido tudo. Roeu as unhas das mulheres todas, deixou os cabelos caindo. Mas que porra de passeio foi esse que Celeste foi fazer que nunca mais voltou? Porque foi embora?

- Ouvi dizer que Celeste fugiu com um vagalume.
- Vagalume?
- É, um que cantava música de flores a ela. Ouvi dizer que ela se apaixonou.
- Mas ela nunca me contou de coisa parecida.
- É que você deixou de ouvir.