17.5.10

Flamejada em amores idílicos, platônicos e adjetivos parecidos eu sinto me merecer mais do que qualquer outra pessoa, não importa gênero. E me ter seria tão ferino quanto não me ter, me perder. Joelhos e mamilos escorrem o sub-gozo que eu deveria ter poupado pra outra era, porque me enoja quando ele vem oco sem frio na barriga, ansiedade. E quando meus devaneios acasalam com os teus e enfim sentimos encontrar colo na mente tranquila e perturbada nossa, é quando eu mais preciso estar longe dos meus reflexos, te olhando de longe a falar a literatura cósmica universal. E me perco, afoitada, nesse teu tanto de mar, no meu tanto de nada. No teu tão tanto de tudo, tu te perdes no meu mundo.

Anseio que não me ter possa estar dentro de uma vertente de mim, dentro do interlúdio pro qual eu entrego meus delírios em sonhos. Desconfio que esses tornados a me olhar sejam teus olhos me pedindo amor. Se forem, eu estou certa que de hoje a terra é um planeta melhor. Eu tive bronquite e consegui recitar teus poemas, acho que eles me adoeceram. E não me ter - está ali na janela, sem fôlego com o corpo entregue a gravidade sem pudor, inevitavelmente cega pelas tuas mãos, verdades, mentiras, poros. Porque me tive um dia e penso não voltar atrás.

Então me tenho e tateio as paredes afim de encontrar sentido qualquer pra minha sustentação. Rasguei as estrofes escritas em pretérito porque estive comprometida a estar inexpressível e fria pro inverno que se anuncia. Meus dedos correm em rios, em fios, em papéis que cortam e fazem sangrar. Mas eu me tenho e me afogo em lençóis sujos, me tocando, me escrevendo sem ligar pros dedos que sangram e te apagam cada dia mais. Te matam na linha do tempo.

Me ligaste? Porque eu não quero tua boca tocando o sexo de outro corpo. É fácil o comodismo da censura e o contrário é o choque de realidade que rasga dilacerendo as células vivas e emocionais. Eu chamo de trauma.

Toca ou não toca, disse Lispector. Essa é a fuga mais inconsequente que eu poderia me presentear. Correr da minha própria paz, me cortar com desequilíbrio. Eu rogo de joelhos aos teus olhos, ensanguentada com essa doença, eu rogo pela minha paz, porque de repente não me ter é me perder dentro dum útero e ser abortada. Então depois disso eu me tenho novamente, horas infindas se escorrem e eu peço com desespero: déjame solo. Por favor.

Mas eu te juro amor eterno e tudo termina aqui na insanidade emocional sem uma gota de razão. Me desequilibro e caio.

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