27.2.10

Redimível

Joana, Joana, se minha felicidade termina quando começo essa conversa é porque trago no peito uma saudade imensa que afago de outro alguém já não supre, é porque não tenho concentração pra fazer outra coisa senão te dar atenção. Joana, tenho te dito que meus dias são felizes, mas na verdade, foi porque por um triz, eu não pensei em ti e quando começo essa conversa lembro de todos os percusos que já fizemos juntos. Joana, eu lembro daqueles dias em que eu, num ato mor de melodrama te chorei minhas dores debaixo dum lençol sujo. Aqueles dias, sim, eu estive feliz. E os fins de tarde na padaria, Joana? Mas agora, não. Agora não há lençol sequer padaria. Se minha felicidade termina é porque agora começo a lembrar que te procurei em todas as rodas de samba, cada esquina dessa cidade, cada folha em formato de coração. Joana, eu te procurei em cada nota do teu violão. Eu quis que tu estivesses nos olhos daqueles desarmados, nas mãos calejadas e sujas daqueles incrédulos. Mas agora me fiz abortar quaisquer pensamentos que me tivessem voltando ao calor do teu sorriso. Minha felicidade termina agora, porque esse coração pequeno já descrê de Allan Kardec, São Jorge, Exu. Já descrê que aqueles beijos de café há léguas no passado eu torne a encontrar senão na tua boca. Minha felicidade termina mesmo nessa conversa porque já não enxergo teus olhos e lembro que assim se sucederá. É, Joana, tu és a única culpada da minha infelicidade. És a culpada de todos os meus sentimentos.

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