1.4.10

Decifrável

Não entendo esses paralelepipedos em que piso. Fumei todas as nuvens e calçadas sujas daquela cidade na ânsia de te arrancar dos meus poros. Entrei no quarto e as paredes manchadas de amor já denunciavam o nosso fim. Tuas calcinhas espalhadas por todo canto exalam um cheiro que só a mim pertencia e, impune, tu entregas ele a uma cama com um corpo alheio. As nuvens nos pulmões me dão tontura agora (aquela tontura que sempre te falei e nunca acreditaste) e não consigo evitar a voz do Chico e tua imagem na cabeça. Os prédios engoliram nossa cidade, a chuva nos colocou abaixo. Falar em chuva me faz lembrar de ti, porque choras feito uma torneira sem conserto e tu sabes que a chuva da nossa cidade é só o choro dos covardes que se entregam aqui. Por isso chove tanto. Teu sorriso naquele quarto não era de emoção, era o teu nervosismo que só eu conhecia daquela forma. Agora é a parte em que te digo "te conheço, meu pé de Laranja Lima" mas tu não estás aqui pra ouvir, então agora é a parte em que a saudade dói. Não demora muito e tu já começas a recolher teu medo e tuas calcinhas pra vir atrás de mim com aqueles olhos de desespero. No fim eu sou sempre tão entregue a ti quanto tu és pra mim e o amor já foi tatuado. Teus olhos me pedem amor. Eu te conheço, meu pé de Laranja Lima.

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