12.3.10

Uma gestação

Quando você pinta tinta nessa tela cinza, quando você passa doce dessa fruta passa, quando você entra mãe-benta amor aos pedaços, quando você chega nega fulô boneca de piche, flor de azeviche, você me faz parecer menos só, menos sozinho. Você me faz parecer menos pó, menos pozinho. Quando você fala bala no meu velho oeste, quando você dança, lança flecha, estilingue, quando você olha molha meu olho que não crê, quando você pousa mariposa morna lisa, o sangue encharca a camisa, quando você diz o que ninguém diz, quando você quer o que ninguém quis, quando você ousa lousa pra que eu possa ser giz, quando você arde alardeia sua teia cheia de ardis, quando você faz a minha carne triste quase feliz, você me faz parecer menos só, menos sozinho. Você me faz parecer menos pó, menos pozinho.

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