1.3.10

São Nicolas

Houve época em que o vermelho afável de cabarés destruídos fora o único amor e rendição que conseguia-se credulamente encontrar. E como amavam, como executavam...
São Nicolas fora o bastardo nascido em ilegitimidade do vermelho do ventre, vermelho daqueles lençóis sujos de perdição, provavelmente. Logo fora orfão. E que orfão amável ele fora.
Mandado ao reformatório aos dez, obteve finalmente sua primeira glória, pego roubando bolsa de freiras, as dos olhares inquisitores. Havia começado ali sua história de amor. Durante trinta anos a perambulação constante. Criança do diabo com asas de liberdade. O santo foi pra prisão. Em qualquer lugar que lhe fossem levado, em todo país que colocara o pé. E como amava a prisão, como terrivelmente eram adoráveis aquelas prisões. Todos aqueles garotos bonitos, cafetões e bichas criminosas. Todos aqueles garotos e algumas tatuagens tristes. Aqueles garotos a quem costumava entregar-se em noites abafadas, noites em que mundo calara os gemidos tristes daquela gente, eram eles as velas que rogavam por São Nicolas todas as noites.
Desgosto dos meninos, seu grande amor foi matar-lhe no quarto, o maldito romance puro fora incontestado. Uma lâmina desenhara no corpo do santo. Arte que o amor lhe concedera.
E todos gritavam em coro que São Nicolas era o santo de todos aqueles garotos bonitos, cafetões e bichas criminosas, das tatuagens dolorosamente tristes.
Todos sabiam em coro que ele era o santo dos cabarés imundos, das prisões, de toda aquela gente que deus adorava esquecer. São Nicolas nascera do ventre impuro da prostituição e morrera nas tatuagens costuradas a carne viva, ardidas em sofrimento. O santo morrera do seu maior amor.

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